quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

minha senhora, 180

Entre o brilhantismo de ALA e ABL e a decadência do espectáculo fruta e cores, na sala preto e prata do casino estoril (onde, para gáudio de todos, também existe uma sala chamada Extoril!!), uma incursão vertiginosa - mas contida em 20 euros - às slots.

O meu azar é compensado pela sorte da S. - fiel à máquina e ao método - que transforma os seus 10 euros em 180, fixados no visor como um prémio de 900 moedas, com o acender da luz de cima da máquina e pela chegada, tão vagarosa como ansiada, do colega da bandeja: "minha senhora, 180"

sábado, 22 de janeiro de 2005

à janela

M: pai!, à janeia, vê carros!
Eu: sim filho.
M: bébé aba janeia. bébé aba.
Eu: sim filho.
M: dôj carros, pai.
Eu: e as pessoas, M.?
M: a todos à casa, pai.
Eu: a fazer o quê, M.?
M.: a agê aiates, pai.
Eu: e tu gostas de agê aiates, filho?
M: xim, pai.

A egotrip e os onanistas

Depois de ter ingerido mais um gole de elixir da vaidade, PSL dirigiu-se ao palácio nos seus passos de pavão emproado e surgiu na tribuna engalanada.

Qual camaleão, sempre adaptado ao meio que o rodeia, vestia de primeiro ministro, exibindo a camisa e a gravata de estilo próprio. Os botões de punho evidentes escondiam a proverbial fita da nossa senhora do Bonfim, velha, gasta e inútil em função de o seu dono considerar que o desejo de omnipotência (que repetiu 3 vezes, uma por cada nó a que tinha direito) já se tinha concretizado.

A sua epifania d’ Umbigo, o mundo em que vivia, começa com o apelo de DB, o a-caminho-de-ex-maioral da freguesia para ser o-mais-insignificante-maioral-do Concelho, que lhe pede que – um dia !, - transforme a freguesia num país para que o Concelho seja um Continente. É aqui, nesta fase que PSL profere pela única vez – no que veio a ser unanimemente qualificado pela crítica como “a defesa da noite” – o nome do país em que vivia, e proclama ao mundo o orgulho patriótico que este sentia em ter ex-maioral da freguesia travestido de maioral do Concelho.

O relaxante muscular começava a fazer efeito, que em préhipnose ainda sonho ouvi-lo partilhar com o mundo que tinha inquirido o maioral do Concelho sobre aspectos pessoais da vida de um maioral do concelho.

Depois – ou antes, que a ordem dos factores é indiferente, como a matemática e o personagem – sou embalado por uma sentida e humana explicação sobre o calor e a inutilidade das tomadas de posse, que têm gente a mais e que aquilo não interessa nada que as pessoas só lá vão (simpáticas e queridas) para os cumprimentos, e que a sala é pequena e não tem ar condicionado e que é por isso que só naquela tarde eu vi cair três. A analogia com aquele tribunal criminal da Pinheiro Chagas é evidente.

[E não é que um gajo até se compadece com o guarda redes do clube das distritais que recebeu o Chelsea e levou 9 nos primeiros 45 minutos, 14 nos segundos (a soma dá 23, eu já fiz a conta), demorou 89 minutos para fazer uma defesa e passou o resto da sua vida a falar mal dela. Da defesa que jogava à frente dele. E que nesta altura passa a ser esquecido como o-gajo-que-defendeu-aquele-pontapé-do-Robben e lembrado como o –sacana-que-enfiou-23-batatas-e-não-tem-vergonha-na-cara-que-só-fala-daquela-vez-que apanhou-a-bola-arremessada-pelas-mãos-do-outro-guarda-redes.]

Mas, atenção, que apesar de a sala dos cumprimentos estar cheia de gente, como o metro em hora de ponta, o que não faltam é pessoas de punhal (nas nossas costas) empunhado, como os bancos que mudam de opinião, os sindicatos que a mantêm – que a indústria não ouvi, que engraçado!

O (s)ilógico Saraiva entra em campo com o conforto de quem tinha feito o trabalho de casa e saca da manga a imagem das metades da laranja, a da esquerda e a da direita, uma cheia de barões e outra cheia de homens de fato antracite brandindo aparelhos de medição de lealdade ao líder empregador, que dá electro choques de alta voltagem quando os níveis baixam.

A jogar em casa, PSL paga para ver e devolve a metáfora, que a laranja foi dividida por ele, e ele, como homem experiente que é, nunca dividiria a laranja em partes iguais e que há uma metade que é mais pequenina que a outra, embora a outra seja mais suculenta e apetitosa.

Assisto estupefacto à telenovenezuelanização da política portuguesa, com a Carmencita escondendo o riso nervoso por ter sido apanhada a destruir lares e a ganir : “que la culpa no es mia, que nada há echo para merecer tanta maldade” que todos os meus inimigos – até os amigos (cuidado, olhem que eu dia um conto, olhem olhem!) – são amigos do meu inimigo, o outro dos tabus...ah, e o outro, o instável (que o velho não desampara a loja, xiça!) que apoia o filho (como é que é possível!, devia estar preso) e ainda o outro dos (outros) tabus.

E pronto, agora é que é, vamos para o debate a sério, sobre política a sério: que o episódio do Professor foi uma mistificação, toda a gente sabe isso, que só o DN é que gosta de nós, que agora como os cartazes não são meus já ninguém liga, são lindos, digam lá se não são? C’est pas mon genre, je dirai même plus.

Pois, exactamente.

Adormeço no sofá e acordo estremunhado à meia noite e dezassete, com a gata ao colo a mandar-me para a cama. A televisão exibe um país à beira da ruína e uma população adoecida com reumatismo e sem tratamento por falta de pessoal médico habilitado. São uns merdas, penso. Se aprendessem todos com o PSL a malta saía toda das montanhas, esquecia o reumatismo – que isso das doenças é coisa da esquerda, que só quer é mandriar –, íam à luta por uma câmara discreta, depois da câmera indiscreta, e depois, com golpes de asa, alapávam-se à cadeira de realizador, nunca mais de lá saíam e fazíam cada um o seu país, à nossa imagem e semelhança narcísica.

E agora posso ir dormir, que já não sinto os electrochoques.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Recupero

O Blog, o F., a minha capacidade de comunicar e tudo o resto.

Better, better, better!

(este é para ti, S.)

Super

"Super - elemento de formação da palavras que exprime a ideia de superioridade, excesso." (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora)

Super
Hiper
Síper

Superlativos indicados por T., um português radicado (no verdadeiro sentido do termo) no Brasil.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

This is Houston calling...

e tudo isto é um contrasenso.

dilema

Duas garrafas de bebidas diferentes, ambas no fim. Tiras a que gostas mais (sensação/sentimento que partilhas com as pessoas que vivem contigo) ou tiras a que gostas menos (e partilhas a preferida com as pessoas que vivem contigo)?

Perdi

a minha capacidade de comunicar.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

pull my joints

Devia eu estar pacificamente em gozo do meu torcicolo - meu grande amigo desde há 10 dias - e a assistir ao jogo em que deveria jogar, quando fui forçado a, em ritual transformista não desejado, tirar a canadiana e vestir a bata branca do endireita e, perante os seus gritos de dor, puxar o encavalitado anelar do meu substituto, meu amigo de há 20 anos.

[diga-se, em sua homenagem, que em rigor dos princípios, devia ser eu o substituto dele]

A manobra - parece que os ortopedistas lhe chamam manobra de redução - correu bem: o E. só terá de andar de tala - e com ela desfilar no sambódromo - durante 15 dias e a radiografia mostra um dedo direitinho.

Mas calculo que haja maneiras menos dolorosas de cimentar uma amizade.

tributo ao E.


terça-feira, 4 de janeiro de 2005

Quando eles saem de Lisboa

Começo a sonhar com o Rio e com o regresso dos Posts.

times they are achanging

Quando o zénite da passagem de ano coincide com um desfile de moda de 3 miúdos e 3 miúdas, todos dos 2 aos 7 anos, que, sem pedir nem avisar, se fecharam na casa de banho e trocaram de roupa entre eles e em particular quando, no fecho do desfile - aquela parte em que os modelos aparecem acompanhados do criador, que neste caso com eles se confundia -os putos pegaram, todos de tronco nú, em objectos ao acaso do WC: uma saboneteira, um piassaBA, um frasco de champo, um rolo de papel higiénico.
Quando a meia noite é passada a dançarmos uns com os outros e com os putos ao colo, ao som de - beware! - Frank Sinatra.
E quando os nossos desvarios alucinados são comentados pelos mais velhos dos dois putos, propositadamente na nossa presença: "Os pais estão muito malucos."
E, sobretudo, quando o balanço de tudo isso é uma intensa e profunda tranquilidade.

a melhor canja do mundo

não é da minha mãe (cujos dotes de culinária permanecem por revelar) nem as das minhas avós (que só uma delas cozinhou para mim numa fase da minha vida em que eu não podia, por dever de ofício, gostar de sopa), nem da S.(cujo top 10 não inclui qualquer sopa)mas sim a da escola do F.

Não é, evidentemente, pelo seu sabor, que a mesma é suficientemente insípida para ser apreciada por todos os frequentadores.

É mais por ser comida à mesa com os miúdos, com o F. em frente e pelo prazer de ouvir: "Ó pai do F, tu não sabes que não se fala com a sopa à frente?"

e, afinal, os 6

na galiza devorando francesinhas, em serralves devorando Paula Rego, no Ourigo devorando chá - excepto o Tom Outlet, que o acompanhou com bagaceira -, no Alforno, devorando as mais diversas iguarias, no Mercedes, devorando alcool e em casa dos dois elementos surpresa, devorando o conteúdo da impecável despensa e do impecável frigorífico, tudo forrado com o magnífico calor do aquecimento central.